O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai publicar um decreto presidencial nos próximos dias para corrigir o salário mínimo.Segundo interlocutores do governo, o valor deve subir dos atuais R$ 1.412 para R$ 1.518 em 2025.
Se esse valor for confirmado, o aumento será de R$ 106, o
equivalente a 7,5%. A correção valerá a partir de janeiro, com pagamento em
fevereiro do ano que vem.
A publicação do decreto deve ocorrer até 31 de dezembro.
Durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, nos
anos de 2020, 2021 e 2022, o salário mínimo foi ajustado somente pela
inflação, ou seja, sem aumento real. Em 2023, foi previsto um pequeno
aumento acima da inflação.
Perda de R$ 10
A aumento do salário mínimo em 2025 já considera a nova
fórmula do salário mínimo, que foi limitado no fim do ano passado por
conta do pacote de cortes de gastos proposto pela equipe econômica.
Pela nova fórmula de cálculo do salário mínimo, a correção
se dá pela inflação (INPC) calculada em doze meses até novembro (4,84%), mais o
crescimento do PIB de dois anos atrás, nesse caso 2023, mas limitado a
2,5%. No ano retrasado, o PIB avançou 3,2%. Entretanto, como há a limitação,
será utilizado o teto de 2,5%.
Por essa nova fórmula, já aprovada pelo Legislativo, o
salário mínimo, arredondado, seria de R$ 1.517. Mas a informação de fontes
do governo é de que o arredondamento será feito para cima, fixando o valor em
R$ 1.518 para o ano de 2025.
Pelo formato anterior de reajuste do salário mínimo, o
valor deveria subir de acordo com a inflação de doze meses até novembro, ou
seja, 4,84%, mais a variação do PIB de dois anos antes, ano de 2023, ou seja,
3,2%. Não havia, no formato anterior, a limitação de 2,5%. Com isso, o
salário mínimo subiria para R$ 1.528.
Considerando a diferença entre a fórmula anterior de
aumento do salário mínimo (R$ 1.528), já abandonada por conta do pacote de
cortes de gastos aprovado pelo Congresso na semana passada, e o valor que
deverá ser apresentado pelo presidente Lula em decreto (R$ 1.518), a perda
será de R$ 10 mensalmente para os trabalhadores, aposentados e pensionistas em
2025.
Despesa menor em 2025
Com a nova proposta para o salário mínimo, o governo
deixará de pagar em aposentadorias e benefícios sociais cerca de cerca R$
4 bilhões em 2025.
Isso porque, de acordo com cálculos do governo, a cada R$ 1
de aumento do salário mínimo se cria uma despesa de aproximadamente R$ 392
milhões.
Pelos cálculos do governo, a nova regra vai implicar em um
crescimento menor do salário mínimo nos próximos anos.
Com isso, os aposentados, pensionistas e beneficiados por
programas sociais, como o BPC, que não podem receber menos do que o
mínimo, deixarão de receber R$ 110 bilhões até 2030.
Isso equivale a um terço da expectativa total de economia
de dinheiro público no período: R$ 327,1 bilhões.
Referência para 59,3 milhões de pessoas
De acordo com nota técnica divulgada em dezembro do ano
passado, e atualizada em janeiro de 2024 pelo Departamento Intersindical de
Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o salário mínimo serve de
referência para 59,3 milhões de pessoas no Brasil.
Além dos trabalhadores que, por contrato, recebem um
salário mínimo (ou múltiplos do mínimo), há também as aposentadorias e
benefícios como o Benefício de Prestação Continuada (BPC) vinculados ao mesmo
valor.
O salário mínimo também gera impactos indiretos na
economia, como o aumento do "salário médio" dos brasileiros e a
elevação do poder de compra do trabalhador.
De acordo com o Dieese, o pacote fiscal proposto pelo
governo, e aprovado pelo Congresso neste mês, traz uma série de impactos
significativos tanto para a economia quanto para a população, com efeitos já no
curto prazo.
"Na economia, a restrição ao aumento real do salário
mínimo pode afetar o consumo, já que a renda das famílias é um dos principais
motores econômicos, como é possível observar no resultado do PIB do 3º semestre
de 2024, por exemplo. Com menos dinheiro disponível, o consumo de bens e
serviços tende a cair, com consequências negativas sobre o crescimento
econômico", avaliou o Dieese.